sexta-feira, 17 de novembro de 2017

11 de novembro: No manantial

No sábado, dia 11 de novembro, ais um espetáculo No Manantial foi apresentado ao público no Museu do Doce (Centro Histórico de Pelotas). O grupo de leitura literária da FaE/UFpel (GELL), responsável pela escolha do texto, ensaios e leitura teatralizada esteve representado, na ocasião, pela Cíntia, Cinara, Ieda, Leonardo e Malu, No apoio, Alessandra, Érica e Rose. A seguir, leia um trecho do conto:

No manantial
João Simões Lopes Neto
– Está vendo aquele umbu, lá embaixo, à direita do coxilhão? Pois ali é a tapera do Mariano. Nunca vi pêssegos mais bonitos que os que amadurecem naquele abandono; ainda hoje os marmeleiros carregam, que é uma temeridade! Mais para baixo, como umas três quadras, há uns olhos d’água, minando as pedras, e logo adiante uns coqueiros; depois pega um cordão de araçazeiros.
Diziam os antigos que ali encostado havia um lagoão mui fundo onde até jacaré se criava.
Eu, desde guri, conheci o lagoão já tapado pelos capins, mas o lugar sempre respeitado como um tremedal perigoso: até contavam de um mascate que aí atolou-se e sumiu-se com duas mulas cargueiras e canastras e tudo... Mais de uma rês magra ajudei a tirar de lá; iam à grama verde e atolavam-se logo, até a papada.
Só cruzam ali por cima as perdizes e algum cusco leviano. Com certeza que as raízes do pasto e dos aguapés foram trançando uma enrediça fechada, e o barro e as folhas mortas foram-se amontoando e, pouco a pouco, capeando, fazendo a tampa do sumidouro.
E depois, nunca deram desgoto na ponta do lagoão, porque, se dessem, a água corria e não se formaria o mundéu… Mas, onde quero chegar: vou mostrar-lhe, lá, bem no meio do manantial, uma cousa que vancê nunca pensou ver; é uma roseira, e sempre carregada de rosas... Gente vivente não apanha as flores porque quem plantou a roseira foi um defunto... e era até agouro um cristão enfeitar-se com uma rosa daquelas!... Mas, mesmo ninguém poderia lá chegar; o manantial defende a roseira baguala: mal um firma o pé na beirada, tudo aquilo treme e bufa e borbulha...
Uns carreteiros que acamparam na tapera do Mariano contaram que pela volta da meia-noite viram sobre o manantial duas almas, uma, vestida de branco, outra, de mais escuro. E ouviram uma voz que chorava um choro mui suspirado e outra que soltava barbaridades. Mas como era longe e eles estavam de cabelos em pé – pois nem os cachorros acuavam, só uivavam, uivavam – não puderam dar uma relação mais clara do caso.E o lugar ficou mal-assombrado. 

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