quarta-feira, 21 de junho de 2017

Comunidades de Leitores: o que é isso?

No texto “Comunidades de leitores”, Maria De Lourdes Dionísio explora teoricamente que é esta “modalidade coletiva de leitura”. Publicado o Glossário CEALE, leia aqui, na íntegra, o texto produzido pela professora do Instituto de Educação da Universidade do Minho – Portugal.

“Uma busca rápida em qualquer site de pesquisa devolve-nos milhares de referências a comunidades de leitores. São blogues de pessoas singulares ou coletivas, convites de clubes de leitura, anúncios de eventos em bibliotecas e até publicidade de editoras e livrarias. Nesse sentido, uma comunidade de leitores consiste num grupo de pessoas que se reúne periodicamente para debater obras previamente acordadas, sugeridas ou não por um coordenador, muitas vezes uma pessoa de renome – por exemplo, um escritor. É frequente também o alerta para o fato de não se pretender, nesses encontros, discutir conhecimento acadêmico ou desenvolver análises textuais profundas. Tão simplesmente é uma modalidade mais ativa e social de promoção da leitura e do livro.
Nos fundamentos dessa modalidade coletiva de leitura, alimentada pela cumplicidade, os participantes nem sempre detêm todos o mesmo conhecimento sobre o tema ou a obra. Nesse processo, encontram-se duas perspectivas: a natureza dos processos de construção de sentidos e a aprendizagem. Quanto à construção de sentidos, as comunidades de leitores são devedoras da noção de que os sentidos que construímos sobre os textos são partilhados por comunidades interpretativas: entidades públicas e coletivas compostas por todos aqueles que detêm uma mesma estratégia de interpretação ou um mesmo modelo de produção de textos.
Quanto às teorias de aprendizagem, nessas comunidades interpretativas ou comunidades de prática, aprendem-se, desenvolvem-se e ativam-se modelos culturais: teorias tácitas e cotidianas de um dado grupo que definem o que é típico e normal do ponto de vista desse grupo. No caso da leitura, e pelo ato de participação, os membros do grupo aprendem as mesmas categorias de compreensão necessárias à interpretação de um texto, os comportamentos oficialmente sancionados e culturalmente aceitos quanto ao que deve ser uma leitura apropriada, a resposta do leitor e até o que é um texto válido.
As semelhanças entre a natureza situada da aprendizagem nessas comunidades de prática e as comunidades de leitores, também elas caracterizadas pela interação social, pela prática colaborativa e construtiva, têm estado na origem da sua mobilização para a escola. Ao serem envolvidos nas comunidades de leitores – com aprendizes e especialistas à volta de uma vasta gama de recursos autênticos de leitura, em que os próprios interesses dos aprendizes também têm um papel – os alunos e as alunas vivem condições de excelência para o desenvolvimento de repertórios de saber mais alargados sobre o mundo, a língua e a literatura, seus valores e papéis mas, sobretudo, de modos próprios de ser leitor, ou seja, da identidade letrada.
Concebida como espaço em que leitores mais ‘imaturos’ se vão desinibindo à medida que discutem com ‘especialistas’ (ou só ouvem discutir), o potencial da comunidade de leitores gerada na escola irá tanto mais longe quanto mais ela se alargar para além da aula ou da biblioteca. Com efeito, a criação e manutenção de uma comunidade em contexto escolar supõe o envolvimento de outras comunidades, como a família e outras do entorno mais vasto da escola.
Fazendo viver a leitura como uma experiência verdadeiramente social, as comunidades de leitores potencializam caminhos que não se esgotam nos encontros presenciais regulares. O sentimento de pertencimento ou de pertinência a tais comunidades é uma das principais contribuições dessas práticas e condição suficiente para a formação de leitores competentes e duradouros”.

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